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quinta-feira, 25 de abril de 2013

Trecho de As Vagas Gigantes ─ Novo Romance da Juventude Brasileira

"(...) Sidcleyssom o conduziu até a porta do apartamento. Carlos ainda pode divisar, relanceando o olhar em direção ao corredor, uma sombra que parecia se deslocar de um cômodo ao outro da casa, metida em um daqueles pijamas torpes e rotos.Sempre que se levantava da poltrona, seu amigo se apressava em conduzi-lo à saída, como se temesse que ele incursionasse por outras dependências da casa e visse algo do qual não lhe dissesse respeito.
Entretanto havia algo diferente daquela vez. A figura sombria parecia querer lhe dizer algo. Mas o que poderia haver em demasia naquele ser diáfano que já não lhe tivesse sido feito ciência? Aquele ser como que se tornara um utensílio da casa de tão indiferente que havia se tornado sua presença. O dom da invisibilidade não deveria ser uma habilidade tão apetecível às pessoas de uma forma geral.
─ Vou descer contigo, Carlos.
─ Não prefere tomar conta de seu pai, Cleyssom?
─ Para quê? O velho já deve ter se recolhido a esta altura dos acontecimentos ─ sua voz parecia carregada de uma sombra de mágoa.
─ Olha, Sid, sei que a vida deve ser dura pra você, mas seu pai é tudo o quanto você tem de mais importante neste momento e apenas acho que você devia zelar um pouco mais por tornar sua vida um pouco mais confortável.
─ Você não entende. Minha mãe foi embora de casa com outro homem, levando apenas minha irmã mais nova, e me deixou aqui, com ele, meu pai. Poderia ter me levado junto, se ela quisesse. Só que ela não o fez.
─ Entendo. Então, é esta a sua mágoa. Ter sido deixado para trás por ela.
─ Não, Carlos. Minha mágoa não se resume a eu ter sido preterido por minha mãe. A razão de meus dissabores foi ter que ficar com este velho egoísta e miserável que nada faz para mudar seu padrão de vida e se contenta com toda esta inércia!
Haviam chegado ao pavimento térreo. Sidcleyssom despediu-se de Carlos com um resignado desejo de boa noite e tornou a subir as escadas que davam acesso à sua morada, parecendo cada vez mais assemelhar-se a seu pai, como o morto que se encaminhava em direção ao féretro prestes a descer à sepultura."

(De As Vagas Gigantes ─ Novo Romance da Juventude Brasileira.)

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