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sexta-feira, 3 de maio de 2013

Cidade Fantasma: Marcelo Bragança Rua

Entrevista que concedi à minha filha escritora Tainá Ruiz em seu blog Cidade Fantasma. Só clicar em cima do tópico abaixo. Não deixem de ler!

Leiam abaixo a entrevista na íntegra:

Cidade Fantasma: Marcelo Bragança Rua
http://livroscidadefantasma.blogspot.com.br/2013/05/marcelo-braganca-rua.html?spref=bl


Olá fantasminhas!
Hoje é dia de conhecerem mais um parceiro do blog, o meu querido Marcelo.
O Marcelo me adotou como filha dele e eu particularmente acho isso uma graça. E por isso fiz questão de apresentá-lo aos meus leitores, afinal, somos todos uma linda família ligada pelo amor aos livros. :')
Ele também me concedeu uma entrevista exclusiva, que você confere agora.




Marcelo Bragança Rua, escritor, nascido em novembro de 1971 na Cidade do Rio de Janeiro. Criado em São João de Meriti, área metropolitana do Estado do Rio. Cursou o ensino médio em técnicas contábeis. Trabalhou como comerciário, cobrador de ônibus e ajudante de caminhão até ser aprovado em concurso público da Prefeitura do Município do Rio de Janeiro, onde é funcionário público.

Desde cedo teve despertado o interesse pela leitura e suas maiores influências vieram das literaturas contemporâneas, a brasileira e a latina. “Os Dias Voláteis ─ Romance da Juventude Brasileira” é seu primeiro romance. Além de escrever em prosa, faz também poesia e letras de música, confecciona contos e desenha histórias em quadrinhos de humor ácido e corrosivo.

Tem letras musicadas por uma banda de rock independente da cena alternativa da Baixada Fluminense: “Câncer” e “Poluição”, questionando o ser humano diante de si mesmo e da sociedade em que vive no CD independente “Como Hienas A Sorrir” (2008) da banda Um A Um.

“As Vagas Gigantes ─ Novo romance da Juventude Brasileira”, é seu segundo romance. Já pensou em viver de literatura, mas como este é um país em que pouca gente possui o hábito da leitura, vai ter que se contentar em continuar trabalhando até o dia em que ganhar o prêmio acumulado da loteria e então poder viver de renda para se ocupar tão-somente com aquilo de que mais gosta: escrever, sempre.



SINOPSE: OS DIAS VOLÁTEIS

“Os Dias Voláteis” tem esse nome porque fala de um período muito volátil de nossas vidas que é a transição da juventude para a idade adulta. O protagonista, Carlos Manfredo Júnior, às vésperas de completar a maioridade, vê-se a frente de um período de sua vida que irá marcá-lo profundamente, um período de muitas transformações e descobertas e que, apesar de seu caráter de transitoriedade, deixa marcas profundas e um rastro indelével em nossas memórias em um torvelinho de emoções.

E, em meio a todas estas questões próprias da juventude, ele se vê dividido entre a amizade e o bom senso, da fidelidade a um amigo ou a supervisão e admoestação paternas e a jovem de personalidade forte que carrega consigo vários segredos ou a menina que é um completo mistério para ele, a qual deseja ardentemente encontrar e que pode ser a resposta a todos os seus anseios mais profundos e desejos mais secretos.

A partir daí vários conflitos envolvendo Carlos e outros personagens irão se deflagrar em sua jornada pelo autoconhecimento, abordando vários temas: a influência marcante dos amigos nessa época, o primeiro emprego, abismo entre gerações, drogas na escola e gravidez na adolescência.

Tudo acontece em um ritmo vertiginoso, pois os dias parecem acelerar sua marcha com a conclusão de diversos acontecimentos, revelando o epílogo para todos os personagens e conduzindo a um final inevitável para o nosso protagonista.


SINOPSE: AS VAGAS GIGANTES

O primeiro livro "Os Dias Voláteis" traça um panorama da juventude brasileira em um período muito volátil de nossas vidas, porém de grandes transformações: a transição da juventude para a vida adulta.

A obra anterior “Os Dias Voláteis” e este “As Vagas Gigantes” se impõem como obras em separado as quais podem ser lidas de forma independente, sem que a sua cronologia seja de alguma forma afetada pela não-leitura de uma obra em primeiro lugar à de outra ou vice-versa.

A obra atual “As Vagas Gigantes” contém o que se pode considerar a continuação natural de “Os Dias Voláteis”, remetendo a um período mais maduro do protagonista Carlos Manfredo Júnior, buscando resgatar o amor de sua vida, trilhando um caminho que o levará ao rompimento com os fantasmas de seu passado, culminado finalmente em sua redenção final, como um vagalhão, um tsunami, uma onda, uma vaga gigante que tudo engole e faz naufragar, sepultando definitivamente o passado nas profundezas do mar que é a memória!


Página pessoal na internet (clique aqui)



* Notícia de última hora: o autor assinou contrato com a Habermann Editora que deve por seus livros nas prateleiras das lojas e livrarias a partir do segundo semestre deste ano. Enquanto isto não ocorre seus livros podem ser encontrados no site do Clube dos autores:


Entrevista: 

Em qual momento descobriu que gostaria de ser escritor?
Quando tinha dez anos de idade mandaram ler um livro na escola. Este livro era “Memórias de um Cabo de Vassoura” de Orígenes Lessa e a princípio eu me mostrei irredutível em minha decisão de não ler livro nenhum, mas eis que um novo universo se descortinou diante de meus olhos e eu me descobri um amante fervoroso de leitura. Creio que foi meu momento de epifania, meu primeiro instante de fluxo de consciência em que me vi diante de mim mesmo e do mundo e adotei uma nova resolução daí por diante e passei a ver as letras com outra visão.

O que o inspirou a escrever seu primeiro livro?
A vontade que tinha de falar aos jovens me utilizando de uma linguagem clássica que não soasse tão maçante. Sou um escritor moderno, mas que ainda se apega às tradições. Portanto acho que um livro com caráter tão descritivo não precisa ser enfadonho. Foi assim que nasceu a ideia para “Os Dias Voláteis ― Romance da Juventude Brasileira”: um livro para jovens em uma abordagem bem adulta e que pode tanto ser lidos por ambos, os mais jovens e os mais maduros. Além deste há outro na mesma linha chamado “As Vagas Gigantes ― Novo Romance da juventude Brasileira” e o terceiro e último livro de minha série com este tema cujo título (por enquanto, provisório) não devo revelar agora, mas que terá como adendo o subtítulo “Último Ato da Juventude Brasileira” encerrando esta trilogia.

Além do(s) projeto(s) atuai(s), tem outro(s) em mente?
Assim que tiver concluído este projeto devo iniciar outra trilogia abordando um tema gótico desta vez.

Se sim, poderia nos contar um pouco sobre ele?
Uma história de mortos-vivos ambientada no Brasil. Posso garantir que é bem original e reserva algumas surpresas para o leitor que não vai se arrepender de conhecer o seu conteúdo. Tento fugir ao máximo possível do lugar comum. (Me desculpem, admiradores do RPG, mas dei preferência a não ler uma página sequer de “Vampiro: A Máscara” enquanto não concluir minha própria trilogia vampiresca, ao menos por enquanto.) gosto de uma abordagem mais clássica da história do vampiro ― como, por exemplo, no conto de John Polidori ou do Stoker. Mas posso garantir que há bastante de meu mesmo na história que se seguirá. Sua sinopse está pronta há anos. Porém, como desejava dar continuidade ao meu Ciclo de Romances da Juventude Brasileira, adiei-o provisoriamente. Tenho partes inteiras dele prontas, porém.

Com qual de seus personagens se identifica mais? Por quê?
Carlos Manfredo Júnior, o protagonista de “Os Dias Voláteis” e suas sequências “As Vagas Gigantes” e o livro que está em andamento. Na realidade o primeiro livro é semiautobiográfico, mas duvido que se saiba que partes são reais na vida do personagem e quais foram inventadas por seu alter ego/autor/narrador. Bem, conforme você já deve ter deduzido até aqui, Carlos Manfredo Júnior é minha contraparte no universo semificcional que criei para minhas histórias. Os livros que dão continuidade a ele, entretanto, são completamente fictícios.

Que dica daria a alguém que quer escrever um livro, mas não sabe por onde começar?
(Espero não estar dizendo nenhuma bobagem aqui, é apenas minha maneira própria de ver as coisas; não sou nenhum arauto da verdade ― mas, vamos lá, então):
Escreva o máximo que puder sobre tudo que vê, ouve e sente. Faça anotações, rascunhos. Isto é um bom treinamento. Mas não coloque tudo que escreveu em seu livro. Lembre-se de que se trata apenas de uma atividade para desenvolver o escritor que havia em você e nem sempre tem a ver com o que você vai colocar em seu livro.
Fico também com uma máxima de Carlos Drummond de Andrade que diz assim, ao que me lembre: “Leia o máximo que puder e depois esqueça tudo.” Creio que ele tenha querido dizer que, tal qual antropófago literário, absorva todas as influências. E na sequência as esqueça para não cair no lugar comum.

Quais escritores têm como referência?
Gosto dos autores nacionais, portugueses e latinos, modernistas e contemporâneos. Caio Fernando Abreu, Lygia Fagundes Teles e José Saramago. Gabriel García Marques, Manuel Puig e Mario Vargas Llosa. Também algo na linha do realismo naturalismo de Machado de Assis e Eça de Queiroz. E gosto de poetas e escritores da literatura beatnik como William S. Burrougs e Jack Kerouac, por exemplo. Entretanto o caráter extremamente detalhista em meus livros não veio com nenhum desses grandes autores da fase realista, mas de um norte-americano: David Morrell, que li aos dezesseis anos em seu livro “First Blood” que deu origem ao filme “Rambo ― Programado Para Matar”: a obra mais detalhista e excepcionalmente bem escrita que já li nestes termos!

Qual a maior dificuldade que enfrentou em seu caminho literário?
Creio que algum preconceito que vejo por parte das pessoas com o autor brasileiro. Normalmente não valorizam o que é produzido aqui e preferem ler tons, cores e padrões de autores estrangeiros, incentivados pela grande mídia que preferem investir na invasão ianque. Mas como reverter este quadro? Mudando a cabeça dos editores? Ou do público-alvo leitor? É muito difícil ser escritor em um país em que pouco tem o hábito regular da leitura e, quando o tem, preferem o que é produzido fora daqui. Mas não esmoreço só por causa disto e vamos em frente até onde der para ir, ou seja, eu só deixarei de escrever quando parar de respirar mesmo com todas as dificuldades já que amo o que faço.

Que livro acha que todos deveriam ler algum dia e por quê.
Eu, particularmente: livros que retratem o cotidiano comum do jovem nos tempos atuais ainda que tenham sido escritos há algum tempo, mas em uma realidade que não muda tanto assim para a cabeça do jovem: o desejo de mudar o mundo enquanto ainda não se perdeu a inocência como nos versos de “Quando O Sol Bater na Janela do Seu Quarto” do Legião Urbana. Embora eu tenha por costume dizer que “Os Dias Voláteis” é o meu “O Apanhador do Campo de Centeio” particular ainda quero ler o livro de J. D. Salinger.
Bem, acho que todos deveriam buscar leitura com informação relevante e fazer seu próprio julgamento com base nos fatos que lhes são apresentados e não como digam que devam fazer. Tenha opinião desde que seja sua própria e não a que foi imposta pelos outros. Como dizia Nietzsche: “ouse pensar”. Neste caso sugiro um de seus livros, não para dizer-lhes como se deva pensar, senão apenas, para que os estimulem a pensar.

Querido, agradeço pela sua presença aqui no blog. Desejo a você muito sucesso! Gostaria de deixar algum recado para os leitores?
Sim: sonhar é bom, mas tendo os pés na realidade. Por isto lute por seus sonhos, mas nunca se esqueça do mais importante que é trabalhar para tornar seu sonho possível e viver com dignidade.


Espero que tenham gostado! 
Beijos, até a próxima! \o

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Trecho de As Vagas Gigantes ─ Novo Romance da Juventude Brasileira

"(...) Sidcleyssom o conduziu até a porta do apartamento. Carlos ainda pode divisar, relanceando o olhar em direção ao corredor, uma sombra que parecia se deslocar de um cômodo ao outro da casa, metida em um daqueles pijamas torpes e rotos.Sempre que se levantava da poltrona, seu amigo se apressava em conduzi-lo à saída, como se temesse que ele incursionasse por outras dependências da casa e visse algo do qual não lhe dissesse respeito.
Entretanto havia algo diferente daquela vez. A figura sombria parecia querer lhe dizer algo. Mas o que poderia haver em demasia naquele ser diáfano que já não lhe tivesse sido feito ciência? Aquele ser como que se tornara um utensílio da casa de tão indiferente que havia se tornado sua presença. O dom da invisibilidade não deveria ser uma habilidade tão apetecível às pessoas de uma forma geral.
─ Vou descer contigo, Carlos.
─ Não prefere tomar conta de seu pai, Cleyssom?
─ Para quê? O velho já deve ter se recolhido a esta altura dos acontecimentos ─ sua voz parecia carregada de uma sombra de mágoa.
─ Olha, Sid, sei que a vida deve ser dura pra você, mas seu pai é tudo o quanto você tem de mais importante neste momento e apenas acho que você devia zelar um pouco mais por tornar sua vida um pouco mais confortável.
─ Você não entende. Minha mãe foi embora de casa com outro homem, levando apenas minha irmã mais nova, e me deixou aqui, com ele, meu pai. Poderia ter me levado junto, se ela quisesse. Só que ela não o fez.
─ Entendo. Então, é esta a sua mágoa. Ter sido deixado para trás por ela.
─ Não, Carlos. Minha mágoa não se resume a eu ter sido preterido por minha mãe. A razão de meus dissabores foi ter que ficar com este velho egoísta e miserável que nada faz para mudar seu padrão de vida e se contenta com toda esta inércia!
Haviam chegado ao pavimento térreo. Sidcleyssom despediu-se de Carlos com um resignado desejo de boa noite e tornou a subir as escadas que davam acesso à sua morada, parecendo cada vez mais assemelhar-se a seu pai, como o morto que se encaminhava em direção ao féretro prestes a descer à sepultura."

(De As Vagas Gigantes ─ Novo Romance da Juventude Brasileira.)

domingo, 10 de março de 2013

CÂNCER I


CÂNCER I

Quem se apressa em julgar alguém e não respeita a opinião alheia deve se conscientizar, ele também, de que amanhã seremos todos areia. E depois de amanhã ele estará sendo julgado: quem sabe junto a mim, quem sabe ao meu lado. O que aqui era corado já ficou albino; ninguém é assim tão forte que possa fugir de seu destino, nem consiga ludibriar a morte, corromper a essência daquilo que é divino: não devemos abusar da sorte.

quarta-feira, 6 de março de 2013

CÂNCER II


CÂNCER II

Você bem que tenta aparentar prosperidade. E finge estar plácido e sereno. Mas as raízes que te firmam ao solo já estão apodrecendo. Não passas de uma árvore oca. Deseja apagar todos os indícios de dor. Mas as palavras que saem de sua boca a cada uma delas identifico pela cor.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

POLUIÇÃO


POLUIÇÃO

Tente não falar sente falta de ar mente ao dizer crente que vai convencer quanta poeira no ar tanta sujeira a voar garganta emite sons a maldizer santa palavra a morrer gente a vilipendiar doente a definhar carente de fazer quente o amor a oferecer

ÚTERO


ÚTERO

Não devemos ser assim tão cegos. E esta amargura que irrompe do teu peito e te consome... No ódio te fortificas e nele te tornas imune à dor. Queres satisfazer teu ego, mas tuas noites se tornam insones. Isso nada edifica: jamais devemos relegar em segundo plano o amor.

Tua prepotência nos deixa a todos impotentes e decepam nossas mãos com cutelos invisíveis. Não devemos esquecer jamais o que fizeram a nossos irmãos: são tempos difíceis para se viver. A perspectiva de dias ensolarados é quase uma utopia. Sou tomado de assalto pelo desejo de ver a simplicidade de pequenas coisas cada vez mais raras de se obter.

Aqui do lado de fora faz muito calor e frio. Aqui todos nós temos que ter cuidado com El Niño. (Ou Sandy.) Sou um pássaro que feriu sua asa e deseja voltar para a segurança de seu ninho. Só que uma vez mais, em minhas andanças, ouço falar nos homens de alma pequena. Fecho os olhos, volto a ser criança: aperto com força a mão de minha mãe em uma seção de cinema.

Quando o altruísmo se torna uma alternativa faça aos outros tudo aquilo que deseja para si. Mas não espere pela boa vontade de seu vizinho: é você quem deve tomar a iniciativa.

Ela possui olhos verdes-esmeraldas que por vezes parecem cinzentos; ele dirige filmes que ninguém entende, mas entende mais do que ninguém acerca de sentimentos.

Quem nunca brincou com as engrenagens de um relógio? Quem entende os mecanismos da vida? Sou um pássaro que deseja voltar pro seu ninho e cicatrizar suas feridas. Quem dera os ponteiros do relógio andassem para trás. Quem me dera o tempo fosse retroativo. Lá do lado de dentro tudo é tranquilidade e paz e segurança é algo mais que mero atrativo!

O SILÊNCIO E A FÚRIA


O SILÊNCIO E A FÚRIA

Há dias em que tudo dá errado. Como noutro em que o cachorro mordeu a sua perna ou hoje cedo quando quase foi atropelado. Repare em sua casa que se encontra em baderna. Nada mais voltou a ser como antes. Aquela moça que você seduziu, antes cheia de vida e de sonhos, vive agora internada sob o efeito de calmantes desde que você prometeu e nunca cumpriu.

O garoto a quem você deu aulas de equitação, antes cheio de vida e de sonhos, vive agora em uma cadeira de rodas. Enquanto isso você espera o trem na estação e observa nos transeuntes as tendências da moda.

Viúvas batem à sua porta pedindo informações e à noite é o anfitrião de pessoas que não mais caminham. Ao se recolher para dormir tem pesadelos e visões e sente-se inquieto com o que os sonhos lhe anunciam.

STATUS QUO


STATUS QUO

Vamos registrar patentes e estudar os adjetivos uniformes
Beijar medalhas com a língua dormente e calçar as botas nos pés disformes
Vamos jurar pela bandeira e cantar o Hino Nacional
Orgulho da alma brasileira e símbolo do bem a subjugar o mal
Tantas crianças morrem de fome na imensidão deste Brasil varonil
Tantas atrocidades se cometem em nome de sua pátria-amada-mãe-gentil
Se quiseres algo, vá até lá e tome de quem perdeu a luz dos olhos e não viu
Como fizestes com outros tantas vezes mil.

DOM PEDRO II


DOM PEDRO II

OS SONS DA CIDADE
Trânsito congestionado e buzinas
Obras da Prefeitura e britadeiras
Guardas de trânsito e apitos
Sirene da ambulância e dos bombeiros.

OS ODORES DA CIDADE
Fumaça de canos de escapamentos
Gordura fervendo pastéis no bar da esquina
Cola de sapateiro
Biroscas, mictórios, urina.

AS ALMAS DA CIDADE
Gente apressada, estressada, e executivos
Michês, travestis, rufiões e prostitutas
Camelôs, jornaleiros, motoristas.
Meninos de ruas, malandros, punguistas.

AS VOZES DA CIDADE
─ Próxima composição destino Japeri plataforma...
─ Pede informação na banca de jornal
─ Rua Gabiso fica longe?
─ Leva cinco por um real

PREITO DE AMOR AO RIO DE JANEIRO


PREITO DE AMOR AO RIO DE JANEIRO

RIO: uma pintura, um sonho, uma viagem. Tuas mulheres são tua poesia. Leio nas tuas paisagens: uma boa caligrafia, uma bela geografia. RIO: declaração de amor, declamação de um poema. Uma canção, um tema. Toda mulher, toda desnuda, toda pele. RIO: teus points, teus panoramas, tuas praias. De seu nome criei belos anagramas, trocadilhos em língua estrangeira impossíveis de se traduzir. Sou perito em cartas, mas prefiro damas. RIO de bobeira quando tenho vontade de rir.

FOGOS DE ARTIFÍCIOS


FOGOS DE ARTIFÍCIOS

Viver está cada vez mais difícil. Tudo muito caro, entretanto me consola saber que a violência continua gratuita como tinha que ser e sutil como o estrondo de um míssil. Corro pra segurança d’onde moro, em meu edifício (e-difícil). Vou me trancar no quarto, com meu computador, televisão e aparelho de DVD: meu pequeno mundo de virtudes & vícios. Em meu apê (aperto) estou protegido de todos os malefícios, assistindo pela janela o mundo que se acaba de vez com direito a videotape, tira-teima e replay e também fogos de artifícios.

A SAGA DO SANTO CAVALEIRO


A SAGA DO SANTO CAVALEIRO

Quando chego já é tarde. Não enxergo mais o vale, os javalis, rios e beija-flores. As gazelas, montanhas e borboletas. As gentes do povo, suas vidas e seus amores. A fauna, flora e vida se tornam obsoletas. Cavalgo por vales arrasados e florestas devastadas e atravesso rios que secaram. Contemplo vilas incendiadas. Horrorizado eu vejo quantos aldeões pereceram.

A estiagem começou quando o reino vizinho declarou guerra trazendo consigo uma criatura feroz. Soldados inimigos ocuparam nossas terras com seu monstro de proporções inimagináveis e apetite voraz. Sua boca é uma ferida sangrenta d’onde pinga seu veneno e o sangue dos inocentes. Uma chaga pustulenta pingando o ácido que destruiu tantas vidas decentes. O Dragão mandou celebrar uma missa para celebrar suas virtudes, seu orgulho e sua vaidade, a ganância e a cobiça e assim glorificar suas atitudes.

O mundo anda repleto de labirintos e armadilhas, mas não vá cair em suas artimanhas. Tenha fé em seu potencial, pois a boa-fé remove montanhas e todos nós temos algo de especial. Vamos pegar em armas e defender nossas famílias do monstro que vendeu nossas riquezas e corrompeu sua alma, deturpou os seus valores e nos prendeu na armadilha.

Meu soberano dê a ordem: é chegada a hora e também o momento. Temos de servir e proteger o povo. Vamos cavalgar e empunhar espadas para a paz reinar de novo. Meu soberano dê a ordem: cabe a nós silenciar o seu lamento e fazer nossa nação crescer de novo. Protejo os camponeses e resgato as donzelas. Sou cavaleiro da reluzente armadura. Vou ao museu das já em desuso boas vontades recordar da Vida que era menos dura. A Morte, um vento distante e as pessoas mais leves e puras.

ÀS VEZES É DIFÍCIL


ÀS VEZES É DIFÍCIL

Até quão fundo do poço se pode chegar! Dizem que basta a ausência de apenas uma engrenagem para se comprometer o funcionamento de toda a máquina e o coração, fustigado, interromper a contagem. Quando vem a tona velhos ressentimentos vem também toda e qualquer iminência de mais um lar desfeito. As lembranças ruins servem para a Discórdia como abrigo e alimento e para macular o que antes parecia ser perfeito.

Sim, eu sei, é difícil: fazer justiça àqueles que você magoou. Já conhecem seus truques e ardis. “Mas acreditem” ─ diz você ─ “juro, eu mudei!” Sim, eu sei, é difícil: depois de se burlar regras e leis pedir a concessão de mais um armistício. Querer que acreditem no remorso que você sente pelo mal que você desencadeou.

A noite passada, você acordou várias vezes sobressaltado, entre um pesadelo e outro, em suor banhado. Perturbava-lhe a visão de bares pés-sujos e mictórios fedendo a urina. Coisa mais sem eira nem beira isso de gente bêbada caindo pelas esquinas e as ratazanas comendo restos de comida na lixeira. A barra da calça suja de lama, caído no beco, derrubado. Sem cobertor, conforto, cama. Sem espírito de luta, esperança, alma aventureira. Sem honras ou glória, derrotado. E já não se importa, de qualquer forma ou maneira...

Até quão fundo do poço se pode chegar e uma vez lá no fundo as paredes sujas de limo escalar para sair desse poço imundo e uma saída à boca do túnel você poder enxergar!

DECADÊNCIA


DECADÊNCIA

Brincando de Deus criou-se o humanoide: com um pouco de argila e personalidade deformada; qualidades de demagogo, megalômano, poetastro e intelectualóide; dispondo de tecnologia e máquinas avançadas, tubos de ensaio e egos distorcidos, um projeto de gente foi erigido.

Esta é a terra de Ares e Hades: dengue, febre amarela, cólera e malária; câncer, doenças terminais, tumores malignos, a AIDS; abortos, pena de morte, prisão perpétua e eutanásia. Na terra de Ares e Hades tudo vai pelos ares.

O mercado de trabalho competitivo, TV a cabo, telefonia celular, controle remoto, a vida prática; a leitura dinâmica e a memorização, o advento da informática, o computador de última informação.

Você fugiu sem mim e me deixou na pista; muita gentileza de sua parte me mostrar um postal da Índia: ligo a TV no canal de esportes e assisto a corrida armamentista.

Esta é a terra de Ares e Hades: tem a Bósnia e tem a Guerra, tem Candelária e tem chacina; para se proteger destas calamidades tem band-aid e tem vacina; uma sombra cai sobre a cidade: é o Enola Gay que sobrevoa Hiroshima.

VERTIGEM


VERTIGEM

Somos tão frágeis e volúveis e nossa carne, vil e corrupta. Queremos alçar voo mais alto do que permitem nossas asas e sofremos queda tão abrupta. Certas coisas ditas ao vento podem ser venenosas e nossas atitudes são tão inconsequentes. Pulamos do trampolim e mergulhamos, caindo de alturas vertiginosas, riscando o céu como estrelas cadentes e atingindo o solo como um raio incandescente. Somos aquilo de que fomos feitos um dia: nossos sonhos, a loucura e a dor. Só que isto aqui não é uma aula de biologia, não, e nem um filme de terror. Você tanto teme aquela mulher que não enxerga só que ela não pode te ferir porque é toda feita de pedra e assim você logo pensa em as regras poder infringir. Você quer ir ao banheiro lavar essa sua cara suja e quer se barbear, mas não encontra o aparelho então vomita na privada frases infames e não tem coragem de se olhar no espelho. Você não passa dum pobre-diabo. Quer limpar o sangue que escorre pelos cantos da boca, mas os punhos estão ainda mais ensanguentados. Você é mesmo digno de pena: tira notas tortas de seu violino porque não consegue compor melodia mais amena, tortuoso caminho de um assassino.

O LIVRO DAS CANÇÕES DE VIDA E MORTE


O LIVRO DAS CANÇÕES DE VIDA E MORTE

 Os Pés caminham para em um local chegar
 Os Braços esticam para um Ideal alcançar
 As Mãos trabalham para uma Dívida com a sociedade selar
 A Mente pensa para Todo O Corpo ter do que se ocupar
 O Estômago resmunga para a Boca lembrar-se de comer
 O Espírito se alegra para que a Boca não se esqueça de sorrir
 Os Olhos ficam atentos para a Mente ver
 O Corpo morre para um Último Destino cumprir

A ÚLTIMA VEZ



A ÚLTIMA VEZ

Quando Morte e Nascimento se tornam equivalentes e "sim" e "não" significam "talvez", tudo o mais me parece indiferente: eu me apaixonei pela última vez..

Quando o Amor nasce e morre no mesmo logradouro e se tornam idênticos e repetitivos os dias do mês, a última vez é sempre a primeira: eu me apaixonei pela última vez.

Formulo perguntas fadadas a ficarem sem resposta e tudo que me resta é este abismo imenso: Atlas suportou o peso dos Céus nas costas, porém não suportaria o peso do seu silêncio. E nem mesmo Héracles poderia lhe aliviar das geleiras vindas de um seu olhar.

Quem sabe não sou eu A Mão e a Luva ou A esmeralda e o Camafeu; O Príncipe e o Mendigo ou Frankenstein, O Moderno Prometeu. Talvez eu seja apenas um seu amigo ou apenas um Tolo Apaixonado.

Quando se tornas sutis os limites que separam Insensatez e Bom Senso, Loucura e Razão; Forma e Tamanho, Cor e Padrão. Quando Motivação se funde com Desânimo e Homônimos se confundem com Antônimos, trate de tomar cuidado: não seja você como eu algum Tolo Apaixonado.

Após um dia de chuva o Sol se torna mais forte. Mas essa Luz é falsa: são Falsos Ídolos, Falsos Deuses. Após a Tempestade vem a Temperança. Mera ilusão: eu tudo venci e ganhei, mas no caminho deixei cair todas as Esperanças. Eu me apaixonei pela última vez. Yeah!