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sábado, 23 de fevereiro de 2013

POLUIÇÃO


POLUIÇÃO

Tente não falar sente falta de ar mente ao dizer crente que vai convencer quanta poeira no ar tanta sujeira a voar garganta emite sons a maldizer santa palavra a morrer gente a vilipendiar doente a definhar carente de fazer quente o amor a oferecer

ÚTERO


ÚTERO

Não devemos ser assim tão cegos. E esta amargura que irrompe do teu peito e te consome... No ódio te fortificas e nele te tornas imune à dor. Queres satisfazer teu ego, mas tuas noites se tornam insones. Isso nada edifica: jamais devemos relegar em segundo plano o amor.

Tua prepotência nos deixa a todos impotentes e decepam nossas mãos com cutelos invisíveis. Não devemos esquecer jamais o que fizeram a nossos irmãos: são tempos difíceis para se viver. A perspectiva de dias ensolarados é quase uma utopia. Sou tomado de assalto pelo desejo de ver a simplicidade de pequenas coisas cada vez mais raras de se obter.

Aqui do lado de fora faz muito calor e frio. Aqui todos nós temos que ter cuidado com El Niño. (Ou Sandy.) Sou um pássaro que feriu sua asa e deseja voltar para a segurança de seu ninho. Só que uma vez mais, em minhas andanças, ouço falar nos homens de alma pequena. Fecho os olhos, volto a ser criança: aperto com força a mão de minha mãe em uma seção de cinema.

Quando o altruísmo se torna uma alternativa faça aos outros tudo aquilo que deseja para si. Mas não espere pela boa vontade de seu vizinho: é você quem deve tomar a iniciativa.

Ela possui olhos verdes-esmeraldas que por vezes parecem cinzentos; ele dirige filmes que ninguém entende, mas entende mais do que ninguém acerca de sentimentos.

Quem nunca brincou com as engrenagens de um relógio? Quem entende os mecanismos da vida? Sou um pássaro que deseja voltar pro seu ninho e cicatrizar suas feridas. Quem dera os ponteiros do relógio andassem para trás. Quem me dera o tempo fosse retroativo. Lá do lado de dentro tudo é tranquilidade e paz e segurança é algo mais que mero atrativo!

O SILÊNCIO E A FÚRIA


O SILÊNCIO E A FÚRIA

Há dias em que tudo dá errado. Como noutro em que o cachorro mordeu a sua perna ou hoje cedo quando quase foi atropelado. Repare em sua casa que se encontra em baderna. Nada mais voltou a ser como antes. Aquela moça que você seduziu, antes cheia de vida e de sonhos, vive agora internada sob o efeito de calmantes desde que você prometeu e nunca cumpriu.

O garoto a quem você deu aulas de equitação, antes cheio de vida e de sonhos, vive agora em uma cadeira de rodas. Enquanto isso você espera o trem na estação e observa nos transeuntes as tendências da moda.

Viúvas batem à sua porta pedindo informações e à noite é o anfitrião de pessoas que não mais caminham. Ao se recolher para dormir tem pesadelos e visões e sente-se inquieto com o que os sonhos lhe anunciam.

STATUS QUO


STATUS QUO

Vamos registrar patentes e estudar os adjetivos uniformes
Beijar medalhas com a língua dormente e calçar as botas nos pés disformes
Vamos jurar pela bandeira e cantar o Hino Nacional
Orgulho da alma brasileira e símbolo do bem a subjugar o mal
Tantas crianças morrem de fome na imensidão deste Brasil varonil
Tantas atrocidades se cometem em nome de sua pátria-amada-mãe-gentil
Se quiseres algo, vá até lá e tome de quem perdeu a luz dos olhos e não viu
Como fizestes com outros tantas vezes mil.

DOM PEDRO II


DOM PEDRO II

OS SONS DA CIDADE
Trânsito congestionado e buzinas
Obras da Prefeitura e britadeiras
Guardas de trânsito e apitos
Sirene da ambulância e dos bombeiros.

OS ODORES DA CIDADE
Fumaça de canos de escapamentos
Gordura fervendo pastéis no bar da esquina
Cola de sapateiro
Biroscas, mictórios, urina.

AS ALMAS DA CIDADE
Gente apressada, estressada, e executivos
Michês, travestis, rufiões e prostitutas
Camelôs, jornaleiros, motoristas.
Meninos de ruas, malandros, punguistas.

AS VOZES DA CIDADE
─ Próxima composição destino Japeri plataforma...
─ Pede informação na banca de jornal
─ Rua Gabiso fica longe?
─ Leva cinco por um real

PREITO DE AMOR AO RIO DE JANEIRO


PREITO DE AMOR AO RIO DE JANEIRO

RIO: uma pintura, um sonho, uma viagem. Tuas mulheres são tua poesia. Leio nas tuas paisagens: uma boa caligrafia, uma bela geografia. RIO: declaração de amor, declamação de um poema. Uma canção, um tema. Toda mulher, toda desnuda, toda pele. RIO: teus points, teus panoramas, tuas praias. De seu nome criei belos anagramas, trocadilhos em língua estrangeira impossíveis de se traduzir. Sou perito em cartas, mas prefiro damas. RIO de bobeira quando tenho vontade de rir.

FOGOS DE ARTIFÍCIOS


FOGOS DE ARTIFÍCIOS

Viver está cada vez mais difícil. Tudo muito caro, entretanto me consola saber que a violência continua gratuita como tinha que ser e sutil como o estrondo de um míssil. Corro pra segurança d’onde moro, em meu edifício (e-difícil). Vou me trancar no quarto, com meu computador, televisão e aparelho de DVD: meu pequeno mundo de virtudes & vícios. Em meu apê (aperto) estou protegido de todos os malefícios, assistindo pela janela o mundo que se acaba de vez com direito a videotape, tira-teima e replay e também fogos de artifícios.

A SAGA DO SANTO CAVALEIRO


A SAGA DO SANTO CAVALEIRO

Quando chego já é tarde. Não enxergo mais o vale, os javalis, rios e beija-flores. As gazelas, montanhas e borboletas. As gentes do povo, suas vidas e seus amores. A fauna, flora e vida se tornam obsoletas. Cavalgo por vales arrasados e florestas devastadas e atravesso rios que secaram. Contemplo vilas incendiadas. Horrorizado eu vejo quantos aldeões pereceram.

A estiagem começou quando o reino vizinho declarou guerra trazendo consigo uma criatura feroz. Soldados inimigos ocuparam nossas terras com seu monstro de proporções inimagináveis e apetite voraz. Sua boca é uma ferida sangrenta d’onde pinga seu veneno e o sangue dos inocentes. Uma chaga pustulenta pingando o ácido que destruiu tantas vidas decentes. O Dragão mandou celebrar uma missa para celebrar suas virtudes, seu orgulho e sua vaidade, a ganância e a cobiça e assim glorificar suas atitudes.

O mundo anda repleto de labirintos e armadilhas, mas não vá cair em suas artimanhas. Tenha fé em seu potencial, pois a boa-fé remove montanhas e todos nós temos algo de especial. Vamos pegar em armas e defender nossas famílias do monstro que vendeu nossas riquezas e corrompeu sua alma, deturpou os seus valores e nos prendeu na armadilha.

Meu soberano dê a ordem: é chegada a hora e também o momento. Temos de servir e proteger o povo. Vamos cavalgar e empunhar espadas para a paz reinar de novo. Meu soberano dê a ordem: cabe a nós silenciar o seu lamento e fazer nossa nação crescer de novo. Protejo os camponeses e resgato as donzelas. Sou cavaleiro da reluzente armadura. Vou ao museu das já em desuso boas vontades recordar da Vida que era menos dura. A Morte, um vento distante e as pessoas mais leves e puras.

ÀS VEZES É DIFÍCIL


ÀS VEZES É DIFÍCIL

Até quão fundo do poço se pode chegar! Dizem que basta a ausência de apenas uma engrenagem para se comprometer o funcionamento de toda a máquina e o coração, fustigado, interromper a contagem. Quando vem a tona velhos ressentimentos vem também toda e qualquer iminência de mais um lar desfeito. As lembranças ruins servem para a Discórdia como abrigo e alimento e para macular o que antes parecia ser perfeito.

Sim, eu sei, é difícil: fazer justiça àqueles que você magoou. Já conhecem seus truques e ardis. “Mas acreditem” ─ diz você ─ “juro, eu mudei!” Sim, eu sei, é difícil: depois de se burlar regras e leis pedir a concessão de mais um armistício. Querer que acreditem no remorso que você sente pelo mal que você desencadeou.

A noite passada, você acordou várias vezes sobressaltado, entre um pesadelo e outro, em suor banhado. Perturbava-lhe a visão de bares pés-sujos e mictórios fedendo a urina. Coisa mais sem eira nem beira isso de gente bêbada caindo pelas esquinas e as ratazanas comendo restos de comida na lixeira. A barra da calça suja de lama, caído no beco, derrubado. Sem cobertor, conforto, cama. Sem espírito de luta, esperança, alma aventureira. Sem honras ou glória, derrotado. E já não se importa, de qualquer forma ou maneira...

Até quão fundo do poço se pode chegar e uma vez lá no fundo as paredes sujas de limo escalar para sair desse poço imundo e uma saída à boca do túnel você poder enxergar!

DECADÊNCIA


DECADÊNCIA

Brincando de Deus criou-se o humanoide: com um pouco de argila e personalidade deformada; qualidades de demagogo, megalômano, poetastro e intelectualóide; dispondo de tecnologia e máquinas avançadas, tubos de ensaio e egos distorcidos, um projeto de gente foi erigido.

Esta é a terra de Ares e Hades: dengue, febre amarela, cólera e malária; câncer, doenças terminais, tumores malignos, a AIDS; abortos, pena de morte, prisão perpétua e eutanásia. Na terra de Ares e Hades tudo vai pelos ares.

O mercado de trabalho competitivo, TV a cabo, telefonia celular, controle remoto, a vida prática; a leitura dinâmica e a memorização, o advento da informática, o computador de última informação.

Você fugiu sem mim e me deixou na pista; muita gentileza de sua parte me mostrar um postal da Índia: ligo a TV no canal de esportes e assisto a corrida armamentista.

Esta é a terra de Ares e Hades: tem a Bósnia e tem a Guerra, tem Candelária e tem chacina; para se proteger destas calamidades tem band-aid e tem vacina; uma sombra cai sobre a cidade: é o Enola Gay que sobrevoa Hiroshima.

VERTIGEM


VERTIGEM

Somos tão frágeis e volúveis e nossa carne, vil e corrupta. Queremos alçar voo mais alto do que permitem nossas asas e sofremos queda tão abrupta. Certas coisas ditas ao vento podem ser venenosas e nossas atitudes são tão inconsequentes. Pulamos do trampolim e mergulhamos, caindo de alturas vertiginosas, riscando o céu como estrelas cadentes e atingindo o solo como um raio incandescente. Somos aquilo de que fomos feitos um dia: nossos sonhos, a loucura e a dor. Só que isto aqui não é uma aula de biologia, não, e nem um filme de terror. Você tanto teme aquela mulher que não enxerga só que ela não pode te ferir porque é toda feita de pedra e assim você logo pensa em as regras poder infringir. Você quer ir ao banheiro lavar essa sua cara suja e quer se barbear, mas não encontra o aparelho então vomita na privada frases infames e não tem coragem de se olhar no espelho. Você não passa dum pobre-diabo. Quer limpar o sangue que escorre pelos cantos da boca, mas os punhos estão ainda mais ensanguentados. Você é mesmo digno de pena: tira notas tortas de seu violino porque não consegue compor melodia mais amena, tortuoso caminho de um assassino.

O LIVRO DAS CANÇÕES DE VIDA E MORTE


O LIVRO DAS CANÇÕES DE VIDA E MORTE

 Os Pés caminham para em um local chegar
 Os Braços esticam para um Ideal alcançar
 As Mãos trabalham para uma Dívida com a sociedade selar
 A Mente pensa para Todo O Corpo ter do que se ocupar
 O Estômago resmunga para a Boca lembrar-se de comer
 O Espírito se alegra para que a Boca não se esqueça de sorrir
 Os Olhos ficam atentos para a Mente ver
 O Corpo morre para um Último Destino cumprir

A ÚLTIMA VEZ



A ÚLTIMA VEZ

Quando Morte e Nascimento se tornam equivalentes e "sim" e "não" significam "talvez", tudo o mais me parece indiferente: eu me apaixonei pela última vez..

Quando o Amor nasce e morre no mesmo logradouro e se tornam idênticos e repetitivos os dias do mês, a última vez é sempre a primeira: eu me apaixonei pela última vez.

Formulo perguntas fadadas a ficarem sem resposta e tudo que me resta é este abismo imenso: Atlas suportou o peso dos Céus nas costas, porém não suportaria o peso do seu silêncio. E nem mesmo Héracles poderia lhe aliviar das geleiras vindas de um seu olhar.

Quem sabe não sou eu A Mão e a Luva ou A esmeralda e o Camafeu; O Príncipe e o Mendigo ou Frankenstein, O Moderno Prometeu. Talvez eu seja apenas um seu amigo ou apenas um Tolo Apaixonado.

Quando se tornas sutis os limites que separam Insensatez e Bom Senso, Loucura e Razão; Forma e Tamanho, Cor e Padrão. Quando Motivação se funde com Desânimo e Homônimos se confundem com Antônimos, trate de tomar cuidado: não seja você como eu algum Tolo Apaixonado.

Após um dia de chuva o Sol se torna mais forte. Mas essa Luz é falsa: são Falsos Ídolos, Falsos Deuses. Após a Tempestade vem a Temperança. Mera ilusão: eu tudo venci e ganhei, mas no caminho deixei cair todas as Esperanças. Eu me apaixonei pela última vez. Yeah!